Histórico
No início da década de 50, o Dr. Carl Djerassi, que pouco antes havia obtido o seu grau de Ph.D. na Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, trabalhava na Companhia SYNTEX S.A., no México. A síntese da cortisona a partir de matéria-prima vegetal, desenvolvida nessa empresa sob sua direção, projetou-o enormemente no cenário da química internacional.
Apesar da sua pouca idade, o Dr. Djerassi foi contratado pela Wayne State University, na qualidade de Professor Assistente. Esse professor, que se tornou um dos químicos mais importantes da nossa época, veio a ser um grande incentivador da moderna Química de Produtos Naturais no Brasil. Em visita ao Rio de Janeiro em 1954, o Prof. Djerassi conheceu o Dr. Walter Mors, então químico do Instituto de Química Agrícola do Ministério da Agricultura, convidando-o a realizar um estágio nos Estados Unidos, visando o seu aperfeiçoamento nas técnicas analíticas e de isolamento e purificação de produtos naturais desenvolvidas e em uso em seu laboratório. No Instituto de Química Agrícola já existia, então, um pequeno grupo de químicos que se dedicava ao estudo dos produtos naturais. Após o regresso do Dr. Mors, e contando com o apoio decisivo do Prof. Djerassi, o grupo original cresceu e se desenvolveu. Deste grupo saiu a semente do que seria, poucos anos depois, o Centro de Pesquisas de Produtos Naturais, o CPPN, embrião do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais.
Em 1962, no bojo de uma reforma do Ministério da Agricultura, o Instituto de Química Agrícola foi extinto, por razões até hoje não compreendidas. Inconformados, vários dos seus pesquisadores procuraram firmar-se em outras instituições. Alguns deles atenderam a um chamado do Dr. Paulo da Silva Lacaz, Professor Catedrático de Química Orgânica e de Bioquímica das Faculdades de Medicina e de Farmácia da então Universidade do Brasil. Foi por sua iniciativa que se iniciaram as gestões para a criação do CPPN, que se deu em setembro de 1963 por um ato da Congregação da Faculdade de Farmácia. O novo Centro contou em sua formação, além do prof. Lacaz, com os Drs. Walter Mors, Joaquim Martins Ferreira Filho, Benjamin Gilbert, Bernard Tursch e Keith S. Brown Jr., mantidos inicialmente com bolsas de agências de apoio a pesquisa norte-americanas, por indicação do Dr. Djerassi. Incorporam-se também ao grupo o Prof. Affonso do Prado Seabra, da Faculdade de Farmácia, recém-chegado de um estágio na Inglaterra e, pouco depois, os Drs. Hugo J. Monteiro e Paul M. Baker.
Até o início dos anos 70, este grupo teve suas pesquisas financiadas por um convênio com a Universidade de Stanford, para onde o Prof. Djerassi se tinha transferido em 1959. Esse convênio possibilitou o acesso à espectrometria de massas e à espectrometria de ressonância magnética nuclear na referida universidade, técnicas analíticas não disponíveis no Brasil naquela época. Essas facilidades permitiram ao grupo o desenvolvimento de trabalhos pioneiros em nosso país.
No primeiro período de sua existência, entre 1963 e 1972, o CPPN ocupou parte das dependências da Faculdade de Farmácia no campus da Praia Vermelha e laboratórios e salas de aula do Departamento de Farmacognosia, cedidos com grande espírito de colaboração pelo seu chefe, o Prof. Jaime Pecegueiro Gomes da Cruz. Os trabalhos desenvolvidos compreenderam o estudo fitoquímico e avaliação biológica de plantas brasileiras. Em particular, o estudo do gênero Aspidosperma conduziu ao isolamento e identificação estrutural de numerosos novos alcalóides. Esses resultados representaram um marco para a Fitoquímica brasileira, tendo sido publicados em revistas nacionais e internacionais, incluindo três revisões na obra de R.H.F. Manske, “The Alkaloids”, coleção de referência para quem estuda este importante grupo de produtos naturais. Foram lançadas também nesse período as bases para o desenvolvimento de trabalhos de natureza interdisciplinar, através do estudo fitoquímico associado à avaliação biológica de diversos produtos naturais e extratos de plantas brasileiras, estudos esses desenvolvidos em cooperação com os Drs. José Pellegrino, da Faculdade de Medicina da UFMG, Lauro Sollero, Nuno Álvares Pereira e Enio Garcia Goulart, e outros professores dos departamentos de Parasitologia, Microbiologia e Farmacologia da UFRJ.
Em 1969 o CPPN foi credenciado pelo CNPq como Centro de Excelência. Naquele ano foi criado o Mestrado em Química de Produtos Naturais, o primeiro curso de Pós-Graduação em Química de Produtos Naturais do Brasil e, dentre todos os programas stricto sensu da UFRJ, o quinto mais longevo da Universidade e segundo mais longevo, dentre as ciências exatas e da natureza.
No período seguinte (1972-1976), o CPPN mudou-se para o campus da Ilha do Fundão, ocupando o espaço físico no andar térreo e subsolo do bloco H do Centro de Ciências da Saúde. Com a vinda para o campus da Ilha do Fundão e a consequente expansão do espaço físico, a multidisciplinaridade das linhas de pesquisa foi acentuada pela criação de um laboratório de Biologia e um laboratório de Síntese e Transformações de Produtos Naturais. Estas diretrizes colocaram a Instituição em consonância com as tendências observadas nos melhores grupos de produtos naturais da Europa e EUA.
Em 1976 o CPPN atingiu o status de Órgão Suplementar do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ ao se transformar no Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais, o NPPN. Em março de 1990, foi implantado o curso de Doutorado no Programa de Pós-Graduação do Núcleo.
Em 2013, foi aprovada no Conselho Universitário a sua transformação em Instituto Especializado, passando a se denominar Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors.
Saiba mais sobre a história do IPPN através dos depoimentos de Affonso Prado Seabra (Bioquímico) e Walter Baptist Mors (Químico) no texto apresentado por Lina Faria – Historiadora “A moderna química de produtos naturais no Brasil: as origens do Núcleo de Pesquisas de Produtos Naturais da UFRJ“